quinta-feira, 14 de junho de 2007

Atochando a Tocha do Pan - parte II

II - PROVOCANDO E BRIGANDO COM OS SEGURANÇAS

Na Cidade Alta, procurei por turistas ensangüentados, branquelos mancando ou máquinas quebradas, mas só vi pessoas sorridentes. Será que estou no lugar certo?, tentei avaliar. Logo à frente, encontrei AA junto com um fotógrafo amigo seu, PP, bastante conhecido por arrumar confusões.

Assim que entraram no carro, começou o jorro de acusações. Falavam que a assessora do evento, uma tal de Érica (esse nome parece que me persegue), tinha vetado a entrada deles no carro de apoio. Eu podia imaginar uma baixinha com cara simpática dizendo para eles: Nada de fotos aqui, rapazes. Se virem!

“Eu mandei todo mundo tomar no cu, aqueles putos”, reclamava AA.
“Olha pra isso, quebraram minha máquina”, dizia PP.
Depois de escutar pelo menos uns 5 minutos, perguntei: “E os turistas sendo pisoteados e espancados, alguém viu?”.
“Não teve isso não, mas eles saíram empurrando todo mundo. A mulher não deixou a gente entrar no carro aí a gente foi no chão. Só que eles agrediam todos. A tocha também apagou umas duas vezes”, explicou AA.

Um pouco desapontado, me recostei no banco e pensei como poderia fazer aquela matéria. Na mesma hora, como num passe de mágica, meu sub-editor Moisés me ligou.

“Euias. Iae, beueza?”, disse, tirando uma onda com a minha SUPOSTA incapacidade física de falar a letra L.
“Faua, Moisés”, respondi.
“Olha, já tem uma idéia de como vai fazer a matéria pra gente ir desenhando aqui a página?”
“Claro. Uma principal com duas vinculadas”, menti.
“Certo, e os turistas?”
Abaixei a voz: “Teve uma confusão, mas não foi pra tudo isso. A tocha também apa...”.
“Eles quebraram minha máquina, cara”, repetiu pela milésima vez PP, se recostando no meu banco, como um papagaio de pirata.

Escutei o resto das instruções de Moisés e me concentrei a olhar aquelas ruas por onde a tocha passava, tentando me concentrar em uma melodia grudenta de The Racounters para esquecer os chiliques de PP. Era um dia cinzento em Olinda, com lama por todos os cantos. Seguíamos a tocha por várias ruas apertadas e sujas. Em algum lugar um cachorro latiu, em outro, gritos eram ouvidos. De vez em quando, parávamos para que os fotógrafos corressem até a tocha para tirar novas fotos.

Tão acostumado a passar pela Avenida Presidente Kennedy, em Peixinhos, não fiquei surpreso em ver o comboio pegando um trecho na contramão para escapar do alagamento. Fiquei, sim, surpreso, ao ver uma nova tocha surgindo ao lado do carro. Um mecânico havia posto fogo em um tubo de PVC.

“Como é teu nome”, perguntei pela janela, com o carro em movimento.
“Jorge hfuunsaudnas dos Santos”, ele gritou de volta, enquanto se encharcava naquela água imunda com sua tocha na mão. O nome do meio foi inteligível. “Eu vou pro Pan!”, falou mais uma vez, chamando mais atenção do que a própria Tocha.

Por volta do estádio Arruda, as coisas começaram a esquentar. O clima no carro estava pesado. AA ainda estava puto com os seguranças, que não o deixava chegar perto o suficiente para tirar uma boa foto. Sempre que podia, ele os provocava. Certa hora, colocou o corpo pra fora do carro e tirou foto do carro quebrado da PM, rindo descaradamente dos policiais que agora estavam correndo para acompanhar o comboio.

“Sorri pra foto. Vai, pra sair no jornal. Corre!”

Em um certo momento, quando ele havia voltado pro chão, a coisa ficou mais feia. Um cara da Força Nacional deu um tapa no peito dele, empurrando-o para trás. Os olhos de AA se inflaram e eu vi que a pólvora tinha sido acendida. “Se você tocar em mim, vai preso”, avisou o guarda.

Por um breve segundo, eu pensei que veria uma câmera sendo arremessada no guarda, estilhaçando em sua cara e cegando-o de um olho. Mas talvez, por ter pensado em como seria difícil manter sua família preso e sem emprego, AA se segurou.

“Eu ia dar um murro naquele puto. Por pouco não dei. Mas quem sabe não tem a volta”, ele falou, e eu senti que era a mais pura verdade. Recostei-me mais uma vez no banco e respirei fundo. “Preciso de uma cerveja urgente”.

Um comentário:

Anônimo disse...

arg!
...putz nem preciso comentar.