quinta-feira, 14 de junho de 2007

Atochando a Tocha do Pan - final

FINAL: QUEBRA-CABEÇA

A Tocha parou em dois lugares antes de seguir para seu destino final, no Marco Zero. A primeira foi no Palácio do Campo das Princesas, onde os políticos receberam aplausos, deram seus sorrisos, afagaram crianças e acenaram para o povo, com a mesma conversa mole de que a “Tocha vai trazer paz e integridade aos povos”. Uma puta hipocrisia, isso sim, era aquilo tudo.

Quase cochilando, me dirigi ao carro de apoio onde pude conhecer a famigerada Érica. Ela não era baixinha, mas era simpática. Não estava afim de nos deixar subir no veículo (uma caminhonete antiga caindo aos pedaços), mas fui bastante persuasivo e consegui uma vaga. AA não a mandou tomar no cu, graças a Deus.

Encontrei Morosini novamente e ela me revelou que estava acompanhado desde o começo no carro. Já haviam se passado mais de 3h e eu senti pena dela. Tinha perdido a confusão. Depois que voltamos a andar, para a segunda parte do percurso, senti o tédio a tomar conta do meu corpo. A morosidade só foi quebrada em alguns momentos, quando a tocha voltou a apagar várias vezes na Rua Imperial, rendendo algumas piadas como “Roubaram o fogo”, pelo fato de ser um local perigoso.

Eu já não podia mais rir. Tinha me enchido daquilo. Troquei algumas idéias com Morosini e com Giulliana, repórter do Diário, e fiz algumas anotações gerais. Ninguém havia caído ou tentado atrapalhar a festa, então estava na paz. Furo maior que esse eu não podia levar. Quando a tocha parou no Geraldão, aproveitei para descer onde comi um cachorro quente da tia com cabelo de fuá (existem várias delas em Pernambuco) com André.

Ele me revelou que queria voltar a ser motorista do Pro Jovem. “Lá não tem isso de correria, esse estresse. Eu só tenho que ir para um colégio, levar uma professora e depois... casa!” Concordei veementemente, mas quando ia expor meus argumentos, um moleque com skate passou em velocidade pela entrada do Geraldão, levando a tocha consigo e vários pirralhos ao redor.

Pegamos AA na avenida Boa Viagem, um pouco depois, e combinamos que o deixaríamos no Marco Zero e seguiríamos para a redação. Uma pequena pontada de tristeza começou a me abordar, como se uma grande aventura estivesse chegando ao fim.

“Valeu, galera”, ele falou, enquanto saía do carro.
“Foi legal, hein. Assim, teve os estresses mas foi uma pauta boa”, falei.
“Foi uma roubada da porra, mas era a Tocha. E trabalho é trabalho”, ele disse. Deu-me dois cartões de memória da máquina para eu levar e afastou-se, pronto para enfrentar mais uma batalha por espaço.

Enquanto voltava, fiquei pensando naquilo. “Era a Tocha”. Não a tocha, e sim a Tocha. Assim, não era nenhuma tocha olímpica, e sim pan-americana, mas já era alguma coisa. De repente, as memórias do dia - muitas delas omitidas do texto para não alongá-lo – vieram à tona como um turbilhão.

Eu me senti encaixado naquele quebra-cabeça. Todos faziam sua parte. Os políticos enrolando com palavras, os seguranças batendo nos fotógrafos, o público gritando ensandecido, Érica barrando os jornalistas, eu analisando tudo para informar depois e até Maria Clara, tapando seu buraco. Era um dia diferente, uma história, um momento único em que cada um daqueles tinha que fazer sua parte, não importa o quanto idiota ou importante ela fosse.

Bati minha matéria, ajudei a escolher as fotos e entrei no carro, indo pra casa com o sentimento de dever cumprido. Mais tarde, sonhei que tinha um nariz vermelho, estava correndo nu na Agamenon Magalhães e várias pessoas riam da minha cara e aplaudiam. Todos elas participando daquele circo chamado “A visita da Tocha Pan-Americana a Pernambuco”.

Um comentário:

Anônimo disse...

"não importa o quanto idiota ou importante ela fosse"
O importante é o que restou e o q permanece!