quinta-feira, 14 de junho de 2007

Atochando a Tocha do Pan - parte III

III - PROFISSÃO TAPA-BURACO

Assim como AA, eu descia em alguns momentos, buscando personagens interessantes entre os transeuntes. Conversei com uma senhora que tinha sido liberada do trabalho para acompanhar a tocha. Eu vi sua alegria de ter aquele momento registrado por uma lente, de poder gritar palavras de incentivo e de poder respirar um pouco.

“Sou da administração”, ela me falou, meio titubeante, para não dizer secretária. Depois da entrevista, saiu correndo para contar a um de seus amigos que seu nome sairia no jornal no dia seguinte. Não estou fazendo marketing, eu percebi que ela estava fazendo aquilo. Depois de ver a Tocha e recortar o jornal para guardar de lembrança, ela teria que voltar para aquela vida em que tem de trabalhar 8h por dia para poder sustentar o filho punheteiro e pagar com suor as contas do dia. Não a condeno por isso.

Encontrei Marcelo Cavalcante, da redação, que havia participado do desfile. Falei rápido com ele, mas os gritos por Maria Clara me incentivaram a andar mais um pouco. Lá estava ela, uma gordinha com a roupa do Pan, pronta para o desfile. Vi Lucas novamente e fui trocar uma idéia.

“Quem é essa?”, perguntei.
“Uma tal de Maria Clara. Ela é uma das produtoras e parece que ela está aí de tapa-buraco.”
“Sério mesmo? E esses tabacudos fazendo festa com ela?”, falei, apontando para as cerca de vinte pessoas que insistiam em tirar uma foto com ela, além de abraçá-la e pedir autógrafo.
“Não sei”, falou Lucas. “Vou tentar confirmar com ela”.

Não dei aquele gostinho a ele. Tinha que perguntar sobre aquela profissão magnífica. Tentei falar com ela várias vezes, mas o outro rapaz com a tocha estava chegando e ela já se dirigia para assumir seu posto no revezamento.

Puxei sua camisa. “Maria Clara”.
“Oi”, ela respondeu, simpática.
“É verdade que você ‘tá’ tapando um buraco?”
Ela pareceu um pouco confusa com a pergunta “Ãn?”, resmungou.
“Você entrou de última hora no revezamento, faltou gente e você tá quebrando um galho? Está tapando um buraco?”
“Foi mesmo de última hora”, ela confirmou, parecendo insatisfeita com o sorriso que se esboçou na minha boca assim que eu terminei de falar. Ela assumiu o seu lugar no revezamento e seguiu, feliz da vida, já esquecida que há alguns segundos um repórter escroto tirou onda com a cara dela.

“E aí?”, perguntou Lucas.
“É uma tapa-buraco mesmo”, falei. E depois de analisar sua forma gordinha, acrescentei: “Essa daí tapa um belo de um buraco”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Apesar de não ter visto o tamanho da criatura, acho que ela deveria comparecer sempre, mas dessa vez para a verdadeira operação tapa buraco!