quarta-feira, 27 de junho de 2007

Vazou!

Vazou o novo cd do Velvet Revolver. Rock n' Roll puro. Depois comento música por música. Por enquanto, disponibilizo vídeos de algumas das músicas novas ao vivo (pro-shot).

Just Sixteen


Get out the door


quinta-feira, 21 de junho de 2007

Curiosidade humana e seus tipos (Malditos sejam!)

A raça humana é inteligente, consegue compreender sinais e está sempre atenta a novidades. Isso tudo está relacionado a uma coisa que afeta a todos, mas que, ao extremo, me irrita profundamente. E esta coisa, à qual me refiro, é a curiosidade.

Tenho várias experiências com esse tipo de problema. Sim, um problema. Podem falar da natureza do homem, que é do seu instinto de sobrevivência, mas para mim a curiosidade é um defeito que beira o vício.

Já que sou tarimbado nesta questão, resolvi fazer este artigo-crônica onde cito os principais tipos de curiosos e como eles se comportam. Se você vir um deles na rua, cuidado. Sua privacidade pode estar em perigo!

1) Curioso “Quero Mais” – Andando no ônibus, já me deparei com uma cena típica. Quando alguém se levanta pra olhar alguma coisa, conto um segundo e... PLIM, todos os outros passageiros se levantam. Geralmente acontece quando tem um acidente na rua. Até entendo que as pessoas podem olhar para saber se foi com alguém conhecido. Porém, me irrita profundamente que elas ficam em pé por tanto tempo depois de ver o sumo do fato. Se alguém espreme a laranja pra tomar o suco, o bagaço é descartado. Mas não para os curiosos. Eles torcem o bagaço, esmagam, esganam, chupam e lambem apenas para satisfazer sua sede por... o quê? Sede de quê? Não é a do saber. Um olhar já diz tudo. É algo mais. É a sede do “aumento”. Até porque uma história nunca é auto-suficiente, tem que vir com uma bagagem de mentiras e “aumentos” para poder dar mais crédito ao contador. Quanto mais sangue no acidente, quanto mais braços espalhados, quanto mais vítimas, melhor para eles...

2) Curioso “Automático” – Qualquer barulho que seja, o mínimo CLICK de isqueiro, POIM de celular, THICK de moeda caindo no chão, TLEC de teclado de computador, ou FROOOIM de assoar o nariz, este curioso vai olhar para a pessoa com um ar intimidador, como se fosse o dono do mundo. Ele quer se impor, quer saber o mínimo acontecimento. Não passa de um Zé ruela.

3) Curioso “Invejoso” – Fica encarando a pessoa sem o mínimo motivo aparente. Toda vez que eu entro de carro na minha rua sempre tem uma dúzia de pessoas que me encaram quando passo. Eu me pergunto: “Por quê?” Ás vezes eu dou língua ou faço uma careta. Geralmente, as pessoas assim são invejosas que procuram defeitos para falar ou colocar olho-grande em nossas propriedades. Ah... às vezes eu também dou dedo pra elas...

4) Curioso “Prestativo” – Você pergunta as horas ao seu amigo e de repente vem uma voz do além: “São 8h”. Você olha para o lado e vê o curioso prestativo, com seu rosto feliz de quem fez uma boa ação. Se eu estiver de bom humor eu digo obrigado, se não estiver de bom humor eu apenas ignoro. Não falei com ele mesmo...

5) Curioso “Mirim”, ou Curioso “Juvenil”, ou Curioso “Guti-Guti” – Aquele pivete que pára no meio da rua e fica te olhando com aqueles olhinhos meigos e carentes. Ele deve pensar que eu sou a tia dele pra ir lá e fazer um cafuné. Cai fora, moleque! Eu nem te conheço! Uma vez, quando aconteceu isso e eu fiz careta pro guri, me disseram que aquilo era porque ele queria ser como eu quando crescesse. Azar o dele se quer ter cabelo ruim, labirintite, refluxo, gastrite, hérnia hiatal e uma perna podre. Mude já a cabeça deste garoto!

6) Curioso “de Trânsito” – Tem gente que gosta de encarar no trânsito, se achando o gostoso(a). Você não pode nem tirar uma meleca do nariz ou limpar os dentes com vergonha desses idiotas. Um dia, uma jovem ficou olhando pra dentro do meu carro. Pensei: “Vou dar a ela um motivo pra olhar!”. Segurei a cabeça da minha advogada, que estava ao meu lado e fingi que a estava agredindo. Berrei palavrões, fiz a maior cena. Olhei novamente para a curiosa e ela estava desesperada, tentando sair com o carro. A cara dela era puro horror. “Agora sim vá falar de mim, sua idiota!”

7) Curioso "Transeunte" - Passa na rua e fica olhando para dentro das portas e janelas de casas na espera de encontrar algo interessante. Quem mora em apartamentos não sofre com esse tipo de curioso, a não ser que seja o "menino-aranha".

8) Curioso “Crownd” (ou “Kráude”, no popular) – Pára pra olhar alguma coisa que não diz respeito a ele e acaba interrompendo a passagem de uma porta, de um corredor, na rua ou no trânsito. Quando eu posso, dou um empurrãozinho e peço desculpas. “Eu não vi...”

9) Curioso “Espião-Fofoqueiro” – Este é clássico. Minha família sofre muito disso. Temos uma amiga que, sempre que chega pra conversar algo, é pra falar de alguém. Ela vem com uns papos do tipo: “Eu tava passando ali, sabe, aí eu escutei Zulmira falar que Florência está grávida! Imagina! Nesta idade!”. Primeiro que ela não estava apenas passando ali, ela estava sondando o lugar e viu alguém conhecido. Depois, cumprimentou o conhecido e ficou como quem não quer nada, esperando para falar mais. Aí aproveita e escuta a conversa e fica ligando os fatos com a fofoca do dia anterior. Depois faz o relatório e sai passando pras suas fontes. E ela acha o máximo fazer isso (falei ELA porque esse tipo de fofoqueiro geralmente é mulher, apesar de também ter cabeleireiros e bibas).

10) Curioso "por Osmose" - Aquele que, sem querer, está no lugar certo na hora certa e escuta a conversa alheia. Não faz a mínima força para sair do lugar e absorve toda a informação. Este tipo de curioso está ali sem querer mesmo, senão se trataria do curioso espião.

11) Curioso “Papagaio de Pirata” – Olha pelo ombro de alguém pra ver o que está acontecendo. Ainda me lembro de todas as vezes que senti um bafo de café ou de feijão por sobre meu ombro e pensei: “Puta merda”.

12) Curioso “Sem-Noção” – Um dia desses estava falando com minha advogada no ônibus, naqueles bancos que tem lá atrás. São cinco bancos, um do lado do outro. Irritou-me profundamente o fato que, eu olhava e falava com ela e uma mulher atrás dela estava olhando para mim descaradamente. De cinco em cinco minutos eu parava a conversa e ficava encarando a mulher pra ver se ela se tocava, mas NÃO. Ela não parava. Eu cheguei a coçar a testa com o dedo médio olhando pra ela e mesmo assim NADA. Esse é o tipo de curioso mais chato que tem, porque não se toca. Só consegui me livrar dela usando o FODA-CE (Forma Organizada De Aprontar com Curiosos Estúpidos), cujo método detalharei em um outro artigo.

13) Curioso "Orkutiano" – Precisa falar?

14) Curioso “Jornalista Lead” – Talvez o mais chato de todos, mas, enfim, eu me incluo nesse tipo. Ressalvando que eu tento ser discreto e não tão chato. Esse tipo de curioso fica no pé das pessoas, sempre perguntando seis coisas básicas: O quê?, Por quê?, Quando?, Onde?, Como? e Quem? Depois de um tempo, volta e pergunta novamente algum detalhe esquecido. Também está sempre querendo saber o que aconteceu, sempre com um jornal, sempre nervoso, sempre dono da razão, sempre com bafo de café, sempre com cheiro de cigarro. Dependendo do jornalista, ele também pode se incluir em todos os outros treze tipos citados acima.

Em breve: Como pegar os curiosos de uma forma fácil e divertida! Espere e verá!

Olé

Os gritos de Grêeeee... miooooo... formaram a música funebre da final desta edição da Libertadores da América. Um time apático, perdido, verde e imaturo se esforçando ao máximo para aparecer pelo menos um pouco nos créditos. O Boca deu um show, mostrou como se vence uma batalha, e o filho da puta do Riquelme é realmente um filho da puta.

Queria que fosse o Santos nessa final!

Pelo menos perdendo se ganha experiência. Talvez no ano que vem o Grêmio chegue mais forte. Mas, "pelamordeDeus"! Contratem atacantes decentes. Fora, Tuta e Amoroso!

quarta-feira, 20 de junho de 2007

O Rei do Coco

Uma coisa que eu costumo dar atenção em trabalhos jornalísticos e fictícios é a valorização do personagem. Conhecendo-o e entendendo suas ambições, podemos nos identificar com ele e aprender sobre a cultura, ambiente e pessoas ao seu redor.

Sebastião Grosso, pelo o que me foi dito, parece ser um desses personagens interessantes de se ver. Feirante de Goiana, interior de Pernambuco, aprendeu desde cedo como fazer uma boa festa de coco de roda em sua casa no bairro com o sugestivo nome de Mutirão. Analfabeto, nunca escreveu nenhum verso e guarda em sua mente mais de trezentas músicas, que compõe com tamanha propriedade que ganhou o título de "Rei do Coco", na cidade.

Com isso, crio uma boa expectativa para assistir o curta-metragem homônimo do cantor, produzido pela SBP Filmes. Não poderei comparecer na estréia, nessa sexta-feira, no Largo do Alvorada, em Goiana. Mas já encomendei minha cópia com as produtoras Maria Helena - a half-diva pernambucana - e Carol.

Contratei o ator/crítico/jornalista/comediante Jose "Joy" Portela - o mesmo que dança Macarena no vídeo do post anterior - para uma crítica abalizada do blog. Semana que vem, posto aqui.

Ah, se alguém quiser entrar em contato com o pessoal do filme, é só me mandar um e-mail que eu encaminho.

domingo, 17 de junho de 2007

Festival do Minuto

Vídeos feitos por um grupo de desocupados - incluindo eu - para a edição do Festival do Minuto de 2004 (ou 2005, sei lá) sobre o tema Meu Banheiro, Meu Mundo. 1 min cada um. Tem outro também, mas ainda tô com preguiça de postar.

Banho Caliente:
http://www.youtube.com/watch?v=mNiRNuXFDpI

A Aliviada:
http://www.youtube.com/watch?v=CmSRayPd50I

De Robben Ford ao Forrozão no Português – Miríade de estilos

Parte I - Faster than virgin’s Sperm

Os pequenos flashes aos meus lados me lembravam de que eu precisava diminuir um pouco o ritmo. O problema é que eu já estava atrasado demais para o show de Robben Ford no teatro da UFPE e não queria perder nem um minuto. A pista estava molhada, a chuva atrapalhava a visibilidade, mas eu sentia que valia à pena correr aquele risco.

Cheguei no teatro, a chuva havia parado. Fiz amizade com o flanelinha e encontrei Raphael. “Já está na terceira música”, ele avisou. Não havia tempo nem para uma cerveja. Complicado de aceitar, mas arrisquei-me.

A sensação de verum show de blues para mim foi ótima. A última vez que eu assisti uma apresentação de homem-solo tinha sido no show de Beto Kaiser, no Armazém 14, abrindo para Rush Cover. Sentamos na última fileira e relaxamos ao som da música.

O fato de ir sem conhecer nada sobre Ford me ajudou. Eu praticamente não tinha expectativas. Não saber que o cara já tocou com Miles Davis pode ter tirado o peso das minhas costas. O certo é que, como um bom blueseiro, ele fez bem seu trabalho, arrancando irritáveis assobios de alguns babões mais exaltados na platéia (não os culpo... faria o mesmo se fosse Slash).

Quatro músicas depois de minha chegada, saí para tomar uma cerveja. De repente, todos saíram. Pouco mais de 1h depois de ter começado, o show terminou. Cinco tiozões trajando calças jeans apertadas e camisas de rock estavam no bar desde o começo. “É só intervalo”, garantiram. Era nada. Seus R$ 80,00 por cabeça haviam sido jogados no lixo.

Do que escutei, destaco Cannonball Shuffle, que me traz à mente o blues bem raiz, remetendo também – estranhamente – à cena do baile do filme De Volta Para o Futuro. Mas o melhor da noite ainda estava por vir.

Parte II – Carlinhos de Jesus do Paraguai

Era apenas 11h30 da noite... senti que precisava fazer algo. Despedi-me de meu amigo e armei-me com minha única camisa xadrez para enfrentar o São João dos Previdenciários, um forrozão contando com - ninguém mais, ninguém menos que - Santana, Nordestinos do Forró, Quadrilha Junina Lumiar e Kelvis Duran.

Assim que cheguei, liguei para meus contatos no território, conseguindo um ingresso para camarote. O ar frio e confortável do Teatro Guararapes era apenas uma lembrança feliz em um passado não muito distante. Agora era a vez do calor e abafado de milhares de pessoas que se apertavam na quadra principal do português e nos cantos ao redor.

A fauna também era totalmente diferente. Eu achava que ia arrasar com minha camisa xadrez. “Estou bonito?”, perguntei à minha advogada, quando a encontrei naquele inferno. “Tá brega”, ela respondeu e eu senti um pouco de receio de sua parte em ficar perto de mim. A maioria dos homens, ignorando as aulas de São João, foram com suas camisas apertadinhas de playboys.

Ignorei minha advogada e analisei tudo. Aquele era o lugar certo para um xaveco, encharcar a camisa ao som da sanfona nordestina, comer um churrasquinho de gato e, com sorte, molhar a cueca. O que tinha de mulher com decotes "Me Seque" e saias curtinhas não está no gibi, com o perdão de utilizar o bordão do locutor da Sessão da Tarde.

Santana levava todos ao delírio, mas tudo que eu queria era respirar um pouco. Nada melhor que uma cerveja para isso. Cinco ou seis latinhas depois e eu já era o próprio Carlinhos de Jesus no meio daquela multidão, dando um show de ginga e swing para colocar qualquer ogro latino no bolso.

A Quadrilha Lumiar também estigou, mas não atraiu tantos aplausos. Já Kelvis Duran rendeu reboladinhas até o chão dos melhores bregueiros de Pernambuco. Sentia que muitos deles se esforçavam para dançar melhor, como se aquilo fosse um concurso de popularidade. Na verdade, naquela hora achei que eles queriam era roubar um pouco do meu brilho, mas ainda afirmo que bailei como ninguém antes – pelo menos na minha mente deturpada pelo álcool.

Contrabalanceando as partes da noite, fico com o forrozão. Robben Ford foi uma oportunidade única, mas talvez com mais clima, com mais tempo de show, com mais cerveja na mente eu possa aproveitar mais. Se houver uma próxima chance, estarei preparado.

Já o rala-bucho do Português é um daqueles momentos que você cria histórias para a vida. Relembrar em uma mesa de bar, tomando uma lapada de cana com os caras mais escrotos que você pode conhecer. Das dez mil pernas dessa noite divertida, fico com as 9.999 últimas. Deixo a primeira para os deuses do rock n’ roll...

sexta-feira, 15 de junho de 2007

De graça, até injeção na testa, quanto mais um show internacional

Estou indo daqui a pouco para o show de Robben Ford, no teatro da UFPE. O pulha do Pedro inventou de viajar e perdeu a chance de ir de graça... Depois postarei um review sobre o show! Particularmente, não conheço seu trabalho, mas recebi tantos comentários positivos que estou me sentindo um merda. Falarei mais sobre isso depois!

Ah, ingressos de cortesia pra redação...

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Entrevista com a Tocha Pan-Americana

Ela é ardente, passa de mão em mão e é famosa mundialmente. Apesar dessa primeira frase ser bem sugestiva, não se engane com a Tocha. Veja a entrevista abaixo e se surpreenda com o jeito simpático do símbolo do Pan.

Eu – Como é ser “A Tocha”?
Tocha Pan-Americana – É ser poderosa! (risos) É muito bom, ser conhecida mundialmente e ser o símbolo dos Jogos Pan-Americanos.

Eu – Mas sempre exista a sombra da Tocha Olímpica, né?
TP – Ah... (titubeia) Mas cada uma conquistou seu espaço. Do mesmo jeito que ela faz sombra, eu também faço, então estamos na mesma.

Eu – Como é ser passada de mão em mão por atletas e desconhecidos?
TP – Faz parte do trabalho, sabe? Tipo... é bom quando você está nas mãos de um Gustavo Borges, ou do Guga, por exemplo. Quanto aos anônimos... Não que seja ruim, mas se fosse para preferir, realmente escolheria só os famosos.

Eu – Você nunca recebeu críticas por esse jeito liberal?
TP – Não, o pessoal com quem eu trabalho sempre é profissional. Às vezes alguém coloca a mão no lugar errado, mas eu dou uma queimadinha (risos) e tudo se acerta.

Eu – O que achou de Pernambuco?
TP – Um lugar maravilhoso. Pena que foi apenas um dia. Quando cheguei na praia de Boa Viagem já estava de noite, então não deu pra sentir o calor recifense. Em Olinda, o céu estava nublado, mas pretendo voltar.


JOGO RÁPIDO

Ídolo: Mauna Loa
Herói: Tocha Humana
Filme: Volcano
Música: Pode vir quente que eu estou fervendo
CD: Dark Side of the Moon
Livro: Harry Potter e o Cálice de Fogo.. ah, e o Pequeno Príncipe também
Hobby: Churrasco
Comida: Óleo diesel, mas também gosto de gasolina

Uma mensagem para os fãs: “Sempre acreditem nos seus sonhos e nunca desistam, porque querer é poder ”.

Atochando a Tocha do Pan - parte I

Matéria gonzo em 4 partes sobre a passagem da Tocha dos Jogos Pan-Americanos em Pernambuco. Não é tão grande quanto parece e prometo que vocês vão achar legal.

Atochando a Tocha do Pan

I - SOZINHO NA PARADA


Quando cheguei na prefeitura de Olinda, antes do começo do revezamento da Tocha Pan-Americana, o clima era de um verdadeiro pandemônio. Em poucas palavras, posso dizer que tinha muita chuva, garotos barulhentos, batuques de maracatu, bonecos gigantes, professores protestando e câmeras da Globo espalhadas em cantos estratégicos, algumas delas em cima de um prédio logo à frente, como snipers.

Eu estava aqui, teria uma página quando chegasse à redação, mas não estava me sentindo confortável. Bom, esse é meu trabalho. Quem sabe se eu entender qual o sentido dessa visita da Tocha eu possa escrever algo que preste no blog.

Envolvi-me em minha capa e procurei um rosto conhecido. Achei Lucas Fittipaldi, da Folha de Pernambuco.

“Onde pego a credencial?”, perguntei a ele.
“Não tem. É a do jornal mesmo”, ele respondeu, sem saber se levantava ou não o capuz de sua capa amarela.
“E Mestre Salustiano? Onde está?”. O famosíssimo rabequeiro, cuja música nunca tinha feito a mínima questão de escutar, seria o primeiro a carregar a tocha.
“Está lá dentro. Falei com ele mais cedo. Queres alguma coisa”, perguntou Lucas.
“Bom, ele deve ter falado a mesma coisa de sempre né? Estou muito feliz e blá blá blá”, arrisquei, sem a mínima vontade de tirar o bloquinho todo molhado do bolso.

Com a confirmação de Lucas, me aquietei e esperei o começo da solenidade, já imaginando o estresse que seria seguir aquela maldita tocha por cerca de 47 km. “Maldito seja, Celso”, praguejei. Ele tinha dado uma enrolada e me passado a pauta. O outro da vez, Marcelinho, tirou a folga logo nessa terça. “Sacanas”, voltei a praguejar.

Lucas avisou que iria procurar um urso gigante para entrevistar. Não me opus e tentei entrar na prefeitura. Tarefa fácil com o crachá do jornal, mas dados os cinco primeiros passos me deparei com uma parede de jornalistas e câmeras todas apontadas para mim. O salão estava completamente lotado, até as escadas estavam entupidas. Desisti.

Esperei do lado de fora, sendo castigado pela chuva. Um carro com o logo dos Jogos Pan-Americanos passou, atraindo aplausos e gritinhos de centenas de garotos empilhados no pequeno palco em frente à prefeitura. Segui o veículo e consegui dar uma boa olhada naquele pedaço de acrílico e metal tão cobiçado.

Encontrei Rafainha (que participaria do desfile), lá do jornal, e Luciana Morosini, da Folha. Cumprimentei-a e perguntei quantos de lá estavam trabalhando no revezamento. “Quatro repórteres e dois fotógrafos”, ela respondeu. E eu estava sozinho naquela empreitada, contando apenas com um fotógrafo para me ajudar. Ela não sabia muita coisa sobre o carro de apoio, então não insisti na conversa e voltei para o palco. Finalmente, após muita espera e minutos de conversa com o motorista do jornal, André, o discurso começou.

Não há muito o que falar sobre essa parte, apenas que as palavras da prefeita Luciana Santos foram completamente abafadas pelos gritos de protesto dos professores. “PCCV Já”, bradavam, tentando fazer uma referencia pobre entre a sigla de um plano que reivindicam com Cerveja. Aquilo me deu idéias, mas antes que elas se alastrassem, a tocha estava viajando, indo em direção à Cidade Alta.

Nada de AA. Ele devia estar no carro de apoio. Esperei um pouco e recebi um telefonema de Carlyle, o cara mais chato da redação. “Vai encontrar com AA (fotógrafo) na Cidade Alta. Ele falou que estão batendo nos turistas. Está o maior inferno lá”.

Puta merda, pensei. E eu aqui perdendo toda a diversão?

“André, vamos nessa que o fight começou”, avisei e entrei no carro.

Atochando a Tocha do Pan - parte II

II - PROVOCANDO E BRIGANDO COM OS SEGURANÇAS

Na Cidade Alta, procurei por turistas ensangüentados, branquelos mancando ou máquinas quebradas, mas só vi pessoas sorridentes. Será que estou no lugar certo?, tentei avaliar. Logo à frente, encontrei AA junto com um fotógrafo amigo seu, PP, bastante conhecido por arrumar confusões.

Assim que entraram no carro, começou o jorro de acusações. Falavam que a assessora do evento, uma tal de Érica (esse nome parece que me persegue), tinha vetado a entrada deles no carro de apoio. Eu podia imaginar uma baixinha com cara simpática dizendo para eles: Nada de fotos aqui, rapazes. Se virem!

“Eu mandei todo mundo tomar no cu, aqueles putos”, reclamava AA.
“Olha pra isso, quebraram minha máquina”, dizia PP.
Depois de escutar pelo menos uns 5 minutos, perguntei: “E os turistas sendo pisoteados e espancados, alguém viu?”.
“Não teve isso não, mas eles saíram empurrando todo mundo. A mulher não deixou a gente entrar no carro aí a gente foi no chão. Só que eles agrediam todos. A tocha também apagou umas duas vezes”, explicou AA.

Um pouco desapontado, me recostei no banco e pensei como poderia fazer aquela matéria. Na mesma hora, como num passe de mágica, meu sub-editor Moisés me ligou.

“Euias. Iae, beueza?”, disse, tirando uma onda com a minha SUPOSTA incapacidade física de falar a letra L.
“Faua, Moisés”, respondi.
“Olha, já tem uma idéia de como vai fazer a matéria pra gente ir desenhando aqui a página?”
“Claro. Uma principal com duas vinculadas”, menti.
“Certo, e os turistas?”
Abaixei a voz: “Teve uma confusão, mas não foi pra tudo isso. A tocha também apa...”.
“Eles quebraram minha máquina, cara”, repetiu pela milésima vez PP, se recostando no meu banco, como um papagaio de pirata.

Escutei o resto das instruções de Moisés e me concentrei a olhar aquelas ruas por onde a tocha passava, tentando me concentrar em uma melodia grudenta de The Racounters para esquecer os chiliques de PP. Era um dia cinzento em Olinda, com lama por todos os cantos. Seguíamos a tocha por várias ruas apertadas e sujas. Em algum lugar um cachorro latiu, em outro, gritos eram ouvidos. De vez em quando, parávamos para que os fotógrafos corressem até a tocha para tirar novas fotos.

Tão acostumado a passar pela Avenida Presidente Kennedy, em Peixinhos, não fiquei surpreso em ver o comboio pegando um trecho na contramão para escapar do alagamento. Fiquei, sim, surpreso, ao ver uma nova tocha surgindo ao lado do carro. Um mecânico havia posto fogo em um tubo de PVC.

“Como é teu nome”, perguntei pela janela, com o carro em movimento.
“Jorge hfuunsaudnas dos Santos”, ele gritou de volta, enquanto se encharcava naquela água imunda com sua tocha na mão. O nome do meio foi inteligível. “Eu vou pro Pan!”, falou mais uma vez, chamando mais atenção do que a própria Tocha.

Por volta do estádio Arruda, as coisas começaram a esquentar. O clima no carro estava pesado. AA ainda estava puto com os seguranças, que não o deixava chegar perto o suficiente para tirar uma boa foto. Sempre que podia, ele os provocava. Certa hora, colocou o corpo pra fora do carro e tirou foto do carro quebrado da PM, rindo descaradamente dos policiais que agora estavam correndo para acompanhar o comboio.

“Sorri pra foto. Vai, pra sair no jornal. Corre!”

Em um certo momento, quando ele havia voltado pro chão, a coisa ficou mais feia. Um cara da Força Nacional deu um tapa no peito dele, empurrando-o para trás. Os olhos de AA se inflaram e eu vi que a pólvora tinha sido acendida. “Se você tocar em mim, vai preso”, avisou o guarda.

Por um breve segundo, eu pensei que veria uma câmera sendo arremessada no guarda, estilhaçando em sua cara e cegando-o de um olho. Mas talvez, por ter pensado em como seria difícil manter sua família preso e sem emprego, AA se segurou.

“Eu ia dar um murro naquele puto. Por pouco não dei. Mas quem sabe não tem a volta”, ele falou, e eu senti que era a mais pura verdade. Recostei-me mais uma vez no banco e respirei fundo. “Preciso de uma cerveja urgente”.

Atochando a Tocha do Pan - parte III

III - PROFISSÃO TAPA-BURACO

Assim como AA, eu descia em alguns momentos, buscando personagens interessantes entre os transeuntes. Conversei com uma senhora que tinha sido liberada do trabalho para acompanhar a tocha. Eu vi sua alegria de ter aquele momento registrado por uma lente, de poder gritar palavras de incentivo e de poder respirar um pouco.

“Sou da administração”, ela me falou, meio titubeante, para não dizer secretária. Depois da entrevista, saiu correndo para contar a um de seus amigos que seu nome sairia no jornal no dia seguinte. Não estou fazendo marketing, eu percebi que ela estava fazendo aquilo. Depois de ver a Tocha e recortar o jornal para guardar de lembrança, ela teria que voltar para aquela vida em que tem de trabalhar 8h por dia para poder sustentar o filho punheteiro e pagar com suor as contas do dia. Não a condeno por isso.

Encontrei Marcelo Cavalcante, da redação, que havia participado do desfile. Falei rápido com ele, mas os gritos por Maria Clara me incentivaram a andar mais um pouco. Lá estava ela, uma gordinha com a roupa do Pan, pronta para o desfile. Vi Lucas novamente e fui trocar uma idéia.

“Quem é essa?”, perguntei.
“Uma tal de Maria Clara. Ela é uma das produtoras e parece que ela está aí de tapa-buraco.”
“Sério mesmo? E esses tabacudos fazendo festa com ela?”, falei, apontando para as cerca de vinte pessoas que insistiam em tirar uma foto com ela, além de abraçá-la e pedir autógrafo.
“Não sei”, falou Lucas. “Vou tentar confirmar com ela”.

Não dei aquele gostinho a ele. Tinha que perguntar sobre aquela profissão magnífica. Tentei falar com ela várias vezes, mas o outro rapaz com a tocha estava chegando e ela já se dirigia para assumir seu posto no revezamento.

Puxei sua camisa. “Maria Clara”.
“Oi”, ela respondeu, simpática.
“É verdade que você ‘tá’ tapando um buraco?”
Ela pareceu um pouco confusa com a pergunta “Ãn?”, resmungou.
“Você entrou de última hora no revezamento, faltou gente e você tá quebrando um galho? Está tapando um buraco?”
“Foi mesmo de última hora”, ela confirmou, parecendo insatisfeita com o sorriso que se esboçou na minha boca assim que eu terminei de falar. Ela assumiu o seu lugar no revezamento e seguiu, feliz da vida, já esquecida que há alguns segundos um repórter escroto tirou onda com a cara dela.

“E aí?”, perguntou Lucas.
“É uma tapa-buraco mesmo”, falei. E depois de analisar sua forma gordinha, acrescentei: “Essa daí tapa um belo de um buraco”.

Atochando a Tocha do Pan - final

FINAL: QUEBRA-CABEÇA

A Tocha parou em dois lugares antes de seguir para seu destino final, no Marco Zero. A primeira foi no Palácio do Campo das Princesas, onde os políticos receberam aplausos, deram seus sorrisos, afagaram crianças e acenaram para o povo, com a mesma conversa mole de que a “Tocha vai trazer paz e integridade aos povos”. Uma puta hipocrisia, isso sim, era aquilo tudo.

Quase cochilando, me dirigi ao carro de apoio onde pude conhecer a famigerada Érica. Ela não era baixinha, mas era simpática. Não estava afim de nos deixar subir no veículo (uma caminhonete antiga caindo aos pedaços), mas fui bastante persuasivo e consegui uma vaga. AA não a mandou tomar no cu, graças a Deus.

Encontrei Morosini novamente e ela me revelou que estava acompanhado desde o começo no carro. Já haviam se passado mais de 3h e eu senti pena dela. Tinha perdido a confusão. Depois que voltamos a andar, para a segunda parte do percurso, senti o tédio a tomar conta do meu corpo. A morosidade só foi quebrada em alguns momentos, quando a tocha voltou a apagar várias vezes na Rua Imperial, rendendo algumas piadas como “Roubaram o fogo”, pelo fato de ser um local perigoso.

Eu já não podia mais rir. Tinha me enchido daquilo. Troquei algumas idéias com Morosini e com Giulliana, repórter do Diário, e fiz algumas anotações gerais. Ninguém havia caído ou tentado atrapalhar a festa, então estava na paz. Furo maior que esse eu não podia levar. Quando a tocha parou no Geraldão, aproveitei para descer onde comi um cachorro quente da tia com cabelo de fuá (existem várias delas em Pernambuco) com André.

Ele me revelou que queria voltar a ser motorista do Pro Jovem. “Lá não tem isso de correria, esse estresse. Eu só tenho que ir para um colégio, levar uma professora e depois... casa!” Concordei veementemente, mas quando ia expor meus argumentos, um moleque com skate passou em velocidade pela entrada do Geraldão, levando a tocha consigo e vários pirralhos ao redor.

Pegamos AA na avenida Boa Viagem, um pouco depois, e combinamos que o deixaríamos no Marco Zero e seguiríamos para a redação. Uma pequena pontada de tristeza começou a me abordar, como se uma grande aventura estivesse chegando ao fim.

“Valeu, galera”, ele falou, enquanto saía do carro.
“Foi legal, hein. Assim, teve os estresses mas foi uma pauta boa”, falei.
“Foi uma roubada da porra, mas era a Tocha. E trabalho é trabalho”, ele disse. Deu-me dois cartões de memória da máquina para eu levar e afastou-se, pronto para enfrentar mais uma batalha por espaço.

Enquanto voltava, fiquei pensando naquilo. “Era a Tocha”. Não a tocha, e sim a Tocha. Assim, não era nenhuma tocha olímpica, e sim pan-americana, mas já era alguma coisa. De repente, as memórias do dia - muitas delas omitidas do texto para não alongá-lo – vieram à tona como um turbilhão.

Eu me senti encaixado naquele quebra-cabeça. Todos faziam sua parte. Os políticos enrolando com palavras, os seguranças batendo nos fotógrafos, o público gritando ensandecido, Érica barrando os jornalistas, eu analisando tudo para informar depois e até Maria Clara, tapando seu buraco. Era um dia diferente, uma história, um momento único em que cada um daqueles tinha que fazer sua parte, não importa o quanto idiota ou importante ela fosse.

Bati minha matéria, ajudei a escolher as fotos e entrei no carro, indo pra casa com o sentimento de dever cumprido. Mais tarde, sonhei que tinha um nariz vermelho, estava correndo nu na Agamenon Magalhães e várias pessoas riam da minha cara e aplaudiam. Todos elas participando daquele circo chamado “A visita da Tocha Pan-Americana a Pernambuco”.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Relaxa e goza

Sugestão que a comediante, ops, ministra do turismo, Marta Suplicy, deu aos turistas - e indiretamente aos brasileiros - que estão se fodendo com os atrasos nos aeroportos brasileiros.

"Relaxa e goza porque você esquece todos os transtornos depois. Isso é igual a parto. Depois esquece tudo."

Deve ser muito bom ser comedian..., ops², política para poder soltar uma dessas. Ela pensaria melhor se fosse um daqueles atendentes das empresas aéreas, agredidos por pessoas que não sabem gozar a vida.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u303961.shtml

terça-feira, 12 de junho de 2007

Ouch!

Falei que postaria hoje a entrevista com a Tocha Pan-Americana, mas depois de segui-la por Recife e Olinda por quase 7 horas, e escrever uma página pro jornal, estou exausto. Amanhã eu posto, galera do mal!

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Rum - Diário de um Jornalista Bêbado

É impressionante como eu fico com vontade de fazer uma loucura depois de ler um livro de Hunter Thompson. Foi assim com Medo e Delírio em Las Vegas, com Hells Angells e agora, depois de terminar a leitura de Rum - Diário de um Jornalista Bêbado. Ele consegue me fazer sentir um merda, como se não tivesse aproveitado nenhum dos meus 22 anos de vida.

A história se passa em San Juan (Porto Rico), com o protagonista Paul Kemp, um jornalista de 32 anos, se virando em um jornal local escrito em inglês. Ao mesmo tempo que você se envolve com a história de Kemp - sentindo a paranóia de trabalhar em uma empresa prestes a entrar em falência e cercado de cretinos, calhordas e picaretas por todos os lados - dá para acompanhar como a cultura americana influenciou na transformação da cidade latina entre o final da década de 50 e o começo da de 60.

O confronto interno de emoções de Kemp é muito foda. Em um minuto o cara está bêbado, querendo mandar todos para o inferno e fugir para uma país na América do Sul. No outro, quer comprar uma casa, um carro e se estabelecer naquilo que ele próprio considera um pandemônio. Ele nunca se decide, e é isso que mantém a história do livro. Não dá para saber o que está para acontecer, quem vai ser desmascarado como um cretino, quem vai apanhar de uma turba ensandecida e quem vai ser traído.

A obra é de ficção, mas Paul Kemp tem a essência de Thompson e mostra um lado do escritor quando ele mesmo esteve nessas terras, amadurecendo como pessoa, jornalista e, claro, como bêbado.

Apesar de ter sido escrito no início dos anos 60, o livro só foi publicado em 1998. Um filme está sendo feito com Johnny Depp no papel principal. Para quem o viu em Fear and Loathing in Las Vegas, ou pelo menos conhece seu trabalho (aliás, quem ainda não conhece Depp merece morrer) sabe que o trabalho será de alto nível.

Rum - Diário de um Jornalista Bêbado
Autor: Hunter Thompson
Editora: Conrad
Preço: por volta de R$ 35,00

Show de humor

A capa do jornal O Globo de hoje foi muito escrota. Pode parecer montagem, mas é real. Deveriam prender no vestiário do Sport para os atletas tomarem vergonha na cara. Vejam abaixo a obra de arte (cliquem para visualizar em maior resolução):


PS: Fui pautado para fazer a cobertura da passagem da Tocha (em maiúsculo mesmo, porque é uma personalidade) do Pan em Recife e Olinda. Não é algo que eu escolheria, mas trabalho é trabalho. Porra, eu escolhi a editoria de Esportes para poder dormir de manhã e trabalhar à tarde e à noite.
Mas vou acordar cedo e entrevistá-la. Amanhã posto aqui no blog com exclusividade.

Cagando a raiva!

Um novo espaço para eu poder cagar minha raiva. Desde os primórdios do antigo saladejantar.com eu não sabia mais o que significava isso. É bom desabafar, respirar o ar mais puro... mais leve... cheirosinho...

Tanta coisa aconteceu desde as matérias do jovem ancião. Entre intrépidas aventuras pelo Recife Fahion, passando por confusões no Shopping Center, abusos na Bienal e até um assassinato com direito a via-crúcis, aprendi que eu não sabia de porra nenhuma.

Continuo sem saber, mas vou aprendendo. E fazendo os contatos, o essencial.

Entre, pegue uma cerveja e sinta-se em casa. A Manjoula é nossa!