segunda-feira, 9 de julho de 2007

Uma noite na fila - Parte IV

XINGAMENTOS

Um pouco depois das 4h, quando o ruído das peças de dominó batendo nas tábuas já havia cessado, o Batalhão de Choque da Polícia Militar chegou ao Geraldão. Todos correram para a parede, como predisse Coroa. Os policiais não bateram em ninguém, apenas começaram a reorganizar a fila. Sem explicar os critérios, dividiram-na em blocos. O meu foi enviado à Avenida Mascarenhas de Moraes, onde ficamos em uma posição perigosa no asfalto, sentindo o vento dos ônibus que passavam bem rente.

Por volta das 5h30, começaram as correrias. Muitas pessoas que chegaram tarde cortaram caminho pelas ruas paralelas, furando a fila. Depois das 6h, fomos relocados mais duas vezes. Todos correram, mas muitos perderam seus lugares. A estimativa da PM é que havia cerca de 10 mil pessoas.

As últimas horas foram as mais difíceis, não apenas para quem estava no aperto da fila e sendo castigado pelo sol, mas também para as mulheres que passavam pelo local. O que começou com assobios descambou para a baixaria, com palavras chulas e agressões verbais a senhoras com bebês e crianças. Até quando alguns carros passavam buzinando o tradicional cazá-cazá, alguns torcedores mal-humorados xingavam em vez de aplaudir, como é comum no estádio.

Os ânimos só se acalmaram quando a fila passou a andar, um pouco depois das 8h. Cerca de 40 minutos depois, chegou minha hora de trocar os meus vales por ingressos. Fiscais e policiais estavam próximos, atentos para que ninguém ultrapassasse sua cota de três tíquetes. Mesmo assim, um pouco à frente, o comércio de bilhetes já havia começado.

Com o final da empreitada, me identifiquei como repórter. Os cambistas não quiseram me dar seus nomes – a exemplo de Coroa e Negão, que foram retratados apenas pelos apelidos.

Um comentário:

Anônimo disse...

ahhhh :(
Faltou falar da cena quando o cara encontrou o cabelo no biscoito!